quarta-feira, 10 de setembro de 2008

Brumas da Paixão: Lembranças Paternas

Chove bastante. De longe vê-se em pé num cemitério rasteiro, a sombra de um homem vertendo gotas que salgam a água que o refresca. Ele não se importa. está estático. Olhando vaziamente pra dentro de sua alma e fixo a uma lápide. Desenhado naquele mármore dizeres sinceros escritos para a eternidade: antonio de magalhães wolf. Pai e família. Amigo e mestre. Bem amado. Descanse em paz.
- ainda lembro. – pensou John matthews Wolf, remoendo lembranças de um passado tão perto de si que ainda o sentia...
Era chuva que descia do céu, eu sei... Mas pareciam navalhas que cortavam meu coração sem piedade... Devagar eles desciam meu pai naquela cova, vestido elegantemente pra festa que o aguardava aonde quer que deus o estivesse levando. Ele fora um ótimo pai e tutor. Foi um português exemplar com um coração de ouro. ele amou uma inglesa. Meu deus, velho... tomara$ que vocês se encontrem novamente. Eu sei o quanto se amavam... sou prova viva disso... porra...
O silêncio acomoda-se no ar até ser quebrado pelo som quieto e cinzento de uma gota de chuva... Hoje completa um ano e Essa velha chuva continua afiada como no dia em que você partiu, pai... cortando meu coração...
em vão, eu sei, mas tento acender um cigarro de bali... pelo menos ele essa chuva não queima. Até mais, velho... sinto saudades... como um poeta sente falta de sua pena... caralho... é foda... táquiopariu...
Parado ali, john tem uma visão. É uma recordação de alguns dias, que ele não sabe precisar bem quantos o são, depois que seu velho pai faleceu... Ele está numa igreja, quando se dá conta, afinal... não tinha mais nada que aquele lugar pudesse ser... observou que existiam milhares de pessoas assistindo a um culto. Escutando um homem de fala singela atrás de um púlpito. Antes que consiga decifrar o que a figura falava, ele escuta palavras aveludadas a seu lado. Um homem jovial, ruivo e com olhos esverdeados lhe diz:
- tudo bem com você, john?
- sim, onde estamos? – pergunta Matt com uma estranha sensação familiar lhe entrando pelos olhos.
- estamos numa igreja.
- nããããoooo!!! Sério??? Não me diga... ACHEI QUE FOSSE UM AÇOUQUE... olha se não fosse você, eu não sei o que seria de mim. Ainda mais sem essa informação...
- heheheheheehehe... a estadia nesse planeta está lhe fazendo bem, não é mesmo? Siga-me.
Matt sai daquele lindíssimo templo azulado que se destaca no meio de um céu cinzento. A lua, ou o que se parece com ela... Na verdade, dali parecia um botão desbotado e solitário num longo pano de chão sujo e úmido... Foda-se!... Pensou...
Quando Matthews leva seus olhos pra contemplar o resto da paisagem vê um gigantesco e extenso rio de águas negras que despeja suas brumas na atmosfera pesada e desconcertantemente relaxante daquele lugar. A TERRA, ELE PERCEBE, É SEPARADA DAS ÁGUAS POR UM BARRANCO INGRIME E PEGAJOSO. PONTES ESTREITAS E EXTREMAMENTE COMPRIDAS LEVAM INCONTÁVEIS PESSOAS ATÉ BARCOS COMO OS DE MISSISSIPI. BARCOS QUE VÃO E VEM A TODO INSTANTES. PARECEM INFINÍTOS EM SUA FROTA. John observa...
- Ô RUIVO. DESCULPA A BRINCADEIRA DE ANTES, MAS ME DIGA POR FAVOR, CARA. QUE LUGAR É ESSE?
- É O UMBRAL, John. Um dos lugares que o demiurgo preparou pra passagem das almas dos homens.
- e aqueles barcos?
- bem, aqueles barcos são os transportes que levam as almas a seus destinos. Afinal de contas, aqui é só a entrada.
- nossa... e tem gente que pensa que é um barquinho com uma caveirinha que rala por uns trocados.
- o quê você disse?
- nada. Esquece. Devaneios... Enfim, como vim parar aqui?
- diga-me você, John... O que viestes fazer aqui? Já reparastes que estás descalço?
- ô, caralho!!! – John olha seus pés descalços e percebe que veste um terno e camisa brancos.
- heheheheheeh... Assustou?
- pelos mares etéreos de netuno... – quase diminuindo o tom de sua voz e aumentando seu espanto John observa que entre o barranco e o rio existe uma lama negríssima e nessa lama ele vê uma figura familiar, melhor dizendo... Paternal...
- paaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaai!!!!!
Desesperado Matthews desce o barranco deslizando, tropeçando e levantando velozmente.
- não saia de perto de mim garoto! Joooooooooooooooohn!!!
- fooooooooooooooooooooda-se!!!! Paaaaai!!! Paaaaaaaaaiiii!!!
Ao chegar até seu pai Matt percebe que além de não tem se sujado ele não afunda na lama, enquanto seu pai parece inconsciente, mesmo de olhos abertos, e atolado na lama até a altura do peito. John só vê a cabeça e os braços de seu pai quando se joga no chão e dá tapas no rosto de seu genitor...
- pai?? Paaaii??? Acorda pai!!! Bora, velho acooooorda!!! Vamos sair daqui, porra!!!
John levanta e agarra seu velho pai pelas axilas tentando puxá-lo da lama. Inútil... é pesado em demasia...
- merda... porra... caralho...
Lágrimas começam a verter de seus olhos molhando seu rosto.
- pai... Meu deus, meu pai eterno. Elohim bendito. Santo é teu sagrado nome que carrego comigo... Deus pai... Deus filho... E deus espírito santo... Redentor e salvador... Criador e destruidor... Deus terrível... Sem ti, o que sou? Sem ti, não posso nada... Mas com o senhor... Eu posso tudo! Dê-me forças para fazer o que tenho que fazer... Dá-me forças paaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaii!!!
O grito ecôa pela entrada do umbral inteira. As pessoas sonolentas em ritmo hipnotizante viram seus rostos por um momento ao que está acontecendo. Atos, o ruivo, desaparece com um sorriso em seu rosto. O corpo de Antônio Wolf começa a sair da lama. Matthews reluz magnificamente, iluminando o umbral como um sol raiando no crepúsculo da manhã tropical.
- pai?
Antônio continua desacordado, mas agora está no colo de seu filho que flutua inconsciente de tal fato até um dos barcos onde o senta e diz:
- vai ficar tudo bem agora, pai. Agora está tudo certo. O senhor pode seguir em frente. Seguir seu ciclo. Seu próprio curso...
Ainda inconsciente de que flutua sobre as águas, Matthews vê seu pai afastar-se naquele barco junto com muitos que vão em busca de auxílio. Contrário àquilo, consciente, ele deixa sair de sua boca:
- obrigado, meu deus... Meu pai... Meu tudo...
E uma lágrima o acorda.
Em seu quarto o jovem john matthews pergunta-se:
- foi só um sonho?
No cemitério ele responde com palavras úmidas de chuva:- eu sei que não. Obrigado atos. As coisas são sempre assim por aí, mas nunca entendemos. Entes queridos que se vão. Pessoas boas. Mas é só um novo começo de uma velha estrada que se chama existência. É hora de ir, velho. Vou nessa pelos mesmos meios escusos de sempre. Te cuidaê, pows! – ele acende um cigarro.

Um comentário:

Vivian Roncon disse...

sem palvras... completamente sem. pude viver sentir tudo que john passou e passa... sao 6 anos.. e o ciclo foi seguido.
vc é maravilhoso
minha vida... bene elohim